sábado, 2 de abril de 2016

CORRUPÇÃO


Corrupção: o buraco é mais embaixo
Dos desvios de verba pública aos deslizes cometidos por boa parte dos brasileiros
por; CARULINA COSTA

Se você perguntar ao juiz paranaense Sérgio Moro o que ele combate, na essência ele dirá que é a corrupção. Esse comportamento daninho, é sem dúvida, uma das raízes mais fundas do Brasil – e algo que nos faz vítimas e ao mesmo tempo vilões de nós mesmos.
A corrupção é o cerne da Operação Lava Jato. O dinheiro desviado da Petrobras se irmana a tantas outras quantias que já foram comprovadamente desviadas dos cofres públicos.
Mas – e sempre existe um, mas – o problema é mais profundo.  O próprio Sergio Moro já declarou: a corrupção não está restrita aos políticos.
Não há como fugir de uma verdade: quando a corrupção está nos meios de governo, em suas diferentes esferas, ela faz parte da sociedade, está na moral, nos “pequenos” delitos – dentro das casas.
História
Tudo começou na carta enviada ao rei de Portugal por Pero Vaz de Caminha. O primeiro indício de corrupção das terras brasileiras foi um pedido de emprego público para um dos sobrinhos do escrivão.
Veio uma sucessão de troca de favores na época da chegada de Dom João VI e da corte portuguesa nas terras cariocas. Os “comuns” da colônia pagavam e recebiam títulos de nobreza com facilidade.
Graças à sonegação de impostos, conheceu-se no mundo todo a expressão “santo do pau oco”, quando as imagens católicas eram usadas para ocultar ouro.
Nasceu assim o consenso aceito com certa tranquilidade por muitos brasileiros de que é possível cometer erros, justificáveis por alguma razão – o famigerado “jeitinho”. “Há uma aceitação, ainda, mas não para sempre, da ‘ética da conveniência’. Isto é, se é bom para mim, eu faço, e arrumo justificativas para fazer sem achar que é desvio ou deslize”, explica o filósofo e professor, doutor Mário Sérgio Cortella.
No mundo
Mas se engana quem pensa que esse é um problema só do Brasil. Na década de 1990, a Itália foi chacoalhada pela Operação Mãos Limpas. Juízes e promotores de Milão iniciaram um combate à relação promíscua que envolvia a máfia, os políticos, empresários, jornalistas, sindicalistas e tantas outras pessoas.
Muitas figuras conhecidas dos italianos foram presas, fizeram delações premiadas, e o caso teve enorme repercussão na sociedade. Dois juízes foram assassinados durante as investigações. O povo, no início, deu várias demonstrações de apoio ao trabalho do Sistema Judiciário.
Porém, uma década depois, os italianos elegeram Silvio Berlusconi, num claro sinal de cansaço diante de tudo que vinha sendo apurado. “Aqui no Brasil pode acontecer algo similar. Com o envolvimento dos líderes dos partidos maiores em casos de corrupção, abre-se margem para que os candidatos mais conservadores cheguem ao poder. Entre eles temos o deputado Jair Bolsonaro e até mesmo a lógica que envolve os partidos com ligação às igrejas”, diz o professor de Filosofia da Fesp-SP, Paulo Nicole.
Problema evidente
“Duas são as fontes principais para o apodrecimento da nossa decência: fragilidade e conivência das instituições que têm de zelar pela Ética saudável e distração ou omissão dos cidadãos que precisam, como habitantes desta nação, ser senhores e senhoras da Política e dos políticos em uma República”, explica o professor Cortella.
Quando o cidadão se omite e permite comportamentos que podem ser questionados, ele não está fazendo seu papel.
“O que acontece no cenário político é um reflexo do que acontece nas relações privadas. Mesmo porque nunca houve no Brasil uma distinção muito clara entre o público e o privado. É a sociedade do jeitinho. Para toda regra, se cria uma exceção”, explica o professor Nicole.
Solução
Mudar suas ideias sobre esses “pequenos” delitos. Não cometê-los mais. Passar a ter um comportamento mais ativo diante das necessidades do seu bairro, da sua cidade – e consequentemente do Brasil inteiro. Esse é sem dúvida um ponto de partida.

“Os canalhas, minoria nacional, conseguiram dois feitos que estão sendo desmontados: fazer a maioria acreditar que eram invencíveis e fazer a maioria acreditar que ser correto é ser otário. O primeiro feito a ser desconstruído depende da comunidade atenta não relaxar. O segundo feito a ser desconstruído depende da honra de cada pessoa”, finaliza o professor Cortella.
Fonte; http://jornaldotrem.com.br/corrupcao-o-buraco-e-mais-embaixo 

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